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29/05/14

AS CONSTELAÇÕES SISTÉMICAS E OS INTERVENTORES SOCIAIS

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As Constelações Sistémicas permitem revelar dinâmicas inconscientes1 de qualquer sistema seja ele corporal2, familiar, organizacional ou comunitário.

A palavra Constelação pode trazer algumas dúvidas soando até um pouco esotérica, mas é fácil de explicar. Esta metodologia é originária da Alemanha onde o idioma tem alguma particularidades, pelo que, a palavra em alemão é Familienaufstellung que quer dizer literalmente colocação familiar. Na tradução para o inglês o verbo stellen foi traduzido para o inglês como constellate (constelar) no sentido de se posicionarem elementos que se relacionam entre si formando um sistema. Como os primeiros livros em português (e noutras línguas) se basearam nas traduções inglesas, a expressão constelações familiares foi adoptada e é a correntemente utilizada.
As Constelações Familiares surgiram inicialmente como psicoterapia, mas rapidamente se estenderam a diversas aplicações. Um deles é na Intervenção Social que gosto de ver num sentido mais amplo. Para mim, interventores sociais são todos aqueles que têm na sua profissão um papel de ajuda, permanente ou pontual, daí incluir além dos assistentes sociais e psicólogos, os professores, os profissionais de saúde, os terapeutas em geral e todos os que tenham algum papel de intervenção social.

É sabido que estas são profissões com elevado risco de desgaste, mas acima de tudo, são profissões de uma profunda entrega em que, por melhor que seja o treino e preparação, as fronteiras do profissional e do pessoal se esbatem e confundem. 

Trabalhar constantemente com pessoas em situação de sofrimento, de pobreza, violência, abusos, desemprego, exclusão social, com problemas de saúde física e mental, educacionais, habitacionais, comunicacionais, de falta de autoestima, etc., pode tornar qualquer vocação extenuante. Trabalha-se muitas vezes com a melhor das intenções e empenho, sem se verem resultados proporcionais.

Na realidade, muitos dos problemas que enfrentam as populações com quem o interventor social lida habitualmente “podem estar ligadas ao stress transgeracional. Os que vivem hoje podem estar limitados pela dor de gerações passadas. Alcoolismo, toxicodependência e suicídio podem ser tentativas de amortecer a dor de gerações passadas. Esta dor transgeracional pode ser revelada e honrada através das Constelações, permitindo a resolução de padrões destrutivos continuados, limitações e barreiras ao sucesso e à felicidade” (Boring, 2012).
Por outro lado os sistemas organizacionais e institucionais em que se integra o trabalho do interventor social “são muito mais complexos que os sistemas familiares, pois estão em contacto com muitos subsistemas, inclusivamente com o sistema familiar do indivíduo e dos colegas de trabalho” (Regojo, 2009).
As Constelações Sistémicas para Interventores Sociais são um método que fornece um profundo e amplo entendimento em imensas situações como se descreve abaixo.
BRAGA  6 JUN   |   MAIA 7 JUN    |   ALMADA 17 JUN



Numa Constelação, com o objetivo de revelar as dinâmicas sistémicas inconscientes, seguindo uma metodologia própria (que difere de facilitador para facilitador e de caso para caso) configura-se o sistema ou sistemas em causa, como por exemplo:

  • Família.
  • Família-escola.
  • Família-comunidade.
  • Família-interventor social.
  • Interventor social-instituição.
  • Interventor e seus recursos internos.
  • Família-escola-instituição.
  • Instituição-comunidade.

Com as Constelações pode-se ficar com uma imagem clara:
  • da situação actual que se revela em geral através de um problema (sintoma);
  • da solução ou soluções possíveis; e
  • do que se deve fazer para as aplicar.
O facilitador de Constelações serve de mediador e orientador, nunca impondo soluções ou movimentos.

Com a informação que surge numa Constelação, o cliente pode tomar as suas decisões e integrar imagens que podem mudar a situação em causa. São, geralmente, soluções e medidas simples que se integram de uma forma muito intuitiva e fluida. Como diz Cecílio Regojo (2009), com este método temos acesso à informação que já sabemos, mas não sabemos que sabemos.

É por isso uma intervenção breve com a qual o cliente faz aquilo que entender e quando sentir que é melhor para si. Não é uma terapia nem pretende ser a solução milagrosa. Implica responsabilidade, confrontação com a realidade e vontade de mudar. Não se pretende com este trabalho substituir o conhecimento e experiência do interventor social, mas antes ampliá-lo para lá dos limites impostos pelo “já conhecido”

A metodologia das Constelações adapta-se a imensas situações, podendo ser realizada em consulta individual ou em grupo num workshop com pessoas com a mesma profissão ou não, mas que possuem o que é essencial para este trabalho: a intuição e vontade de apoiar o processo do cliente.

Aplicações possíveis das Constelações na área da Intervenção Social

Para a organização/instituição e comunidade:
  • Verificar a coerência e eficácia da estrutura (atual ou nova) da organização/instituição.
  • Verificar o posicionamento da organização/instituição na comunidade em que se insere.
  • Testar programas de intervenção na comunidade.
  • Gestão de conflitos na organização/instituição.
  • Investigação das disfunções da organização/instituição.
  • Aferir os efeitos sistémicos provenientes da interação dos diferentes departamentos da organização/instituição.
  • Averiguar uma disfuncionalidade comunitária (integração de novas etnias, situações de trauma coletivo, etc).

Para o profissional:
  • Clarificar o posicionamento e atitude do interventor no exercício da sua profissão e/ou perante a organização/instituição (encontrar um bom lugar e estratégias de adaptação).
  • Tomar decisões sobre a sua carreira (novo cargo, nova instituição).
  • Reequilibrar a vida profissional e a vida privada.
  • Empoderar o profissional reconectando-o com os seus recursos internos (educação, paixão, ética, esperança, mentores, sentido de humor, compaixão, gosto de viver).

Na supervisão de casos complexos:
  • Que envolvam etnias ou estratos socioeconómicos diferentes.
  • Com crianças ou jovens em risco.
  • Situações de migrantes.
  • Traumas coletivos.
  • Sempre que o profissional sente dificuldade em encontrar soluções ou obter resultados.

As Constelações Sistémicas são, sem dúvida, uma ferramenta poderosa e rápida que pode trazer à luz soluções para as diferentes áreas da Intervenção Social e de todos os que têm profissões que implicam algum tipo de ajuda.

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1 Não digo escondidas, porque elas são visíveis através dos sintomas que surgem no sistema.
2 Podem trabalhar-se doenças ou sintomas físicos, mas não se dispensa o acompanhamento médico convencional. As Constelações são um complemento e nunca um substituto.



Bibliografia

BORING, F.M. (2012). Connecting to Our Ancestral Past: Healing through family constellations, ceremony, and ritual. Berkeley. North Atkantic Books.
BOURQUIN, P. (2007). Las constelaciones familiares: En resonancia con la vida. Bilbao. Desclée de Brouwer.
REGOJO, C. (2009). Curso Intensivo de Constelações Organizacionais. Talent Manager