E onde a minha vida começou hoje...
Caminho em Barcelona, esta manhã, à procura de uma sapataria para comprar mais um par de botas. Desta vez castanhas...
Vou com vestida de forma informal, mas quente com o meu sobretudo comprido. Levo uma nota de 5 e outra de 10 Euros... e o multibanco.
Estou descontraída como a manhã de céu azul.
Vejo uma rapariga nova com um bébé sentada no chão da rua, encostada a uma cabina. Pede dinheiro. Barcelona está cheia destas pessoas que usam os bébés para amolecer corações.
"Mais uma", penso. Resisto. "Não lhe vou dar dinheiro porque não merece por estar a usar um bébé". - Percebo que estou a resistir.
Páro naquela rua cheia de gente para perceber porque é que uma mulher que pede dinheiro desta forma me incomoda. Quinze segundos bastam. Não me incomoda só aquela mulher. Incomodam-me todas as pessoas que pedem dinheiro para sobreviver. Lembram-me eu própria, que em tempos tinha que o fazer a amigos. O sobretudo que visto hoje foi-me oferecido por um Amigo, porque eu não tinha dinheiro para comprar um.
Percebo que trabalho arduamente para ganhar o meu ordenado, mas percebo também que aquela mulher tem muito menos que eu.
Dei-lhe a minha nota de 5 Euros. Poderia ter-lhe dado a de 10. Mesmo que lhe desse tudo o que tenho na carteira, mais o que tenho no banco, terei sempre mais do que ela. Mesmo que lhe desse tudo, não passaria fome. Tenho mesmo muito mais do que ela. Porque não partilhar o que tenho com ela?
Olhou-me com espanto e eu agradeci-lhe. Esta mulher deu-me muito mais que dinheiro.
Mais tarde dei 1 Euro a um rapaz que me via entrar na padaria. Perguntou-me se não ia precisar do dinheiro para comprar pão. Não queria o meu dinheiro do pão... Teria dado mais só por isto, mas realmente não tinha ali.
Estes dois seres ensinaram-me tanto que tenho a certeza que a vida deles se vai encher de Abundância. Tal como encheram a minha.
4 comentários:
Tenho aprendido muito contigo Claúdia, a tua partilha é para mim um tesouro impagável. Eu venho ler-te sempre, embora nem sempre comente porque prefiro sentir cada uma das tuas palavras que tanta paz me trazem e que tanto me ensinam e ajudam. Um grande Bem Haja amiga.
Beijinho cheio de carinho e amizade :)
Sabes, Cláudia, eu sinto imenso as verdades (algumas delas) destes quatro textos. Conheço essa resistência mas sempre desconfiei dela, o conforto não me atrai, nunca atraiu. E as batalhas que travamos para além da nossa "zona de conforto", quando a abandonamos, fazem-nos sempre maiores.
Infelizmente alguma dessa grandeza ganha também nos faz infelizes... Temos que continuar a olhar para o desconforto resultante, pois é? Deve significar que ainda existem ali lições para nós :)
Uma coincidência: acabo de postar a respeito dos sem abrigo. Inspirou-me um senhor a quem tentei dar uma tenda de campismo e recusou. Disse que ela lhe traria muito mais problemas do que benefícios, e mais uma série de coisas que me deixaram a pensar. Ele não podia dar-se ao luxo de perder o hábito de dormir ao frio, e se lhe roubassem a tenda era o que ia acontecer. Também não lhe era possível transportá-la constantemente. Seria uma prisão para ele... já o cobertor lhe pesava, mas não o podia largar. Custa ouvir estas coisas. Por mais que se dê comida, agasalhos e moedas, nunca salvamos ninguém. Penso que devemos contribuir para causas, escolher instituições sérias e dar. É o que eu faço, mas custa-me passar por um mendigo e não lhe dar nada, mesmo que lhe sorria.
Gostei muito de aqui estar!
Obrigada e um beijinho
Sabes, Cláudia,
Há muito que fujo deste teu cantinho e hoje deste-me uma bofetada com luva de pelica.
Mostraste-me mais uma Cláudia que não conhecia... e quero agradecer-te, especialmente hoje, pela paz interior que me trouxe esta tua experiência de Vida.
Um beijo Cláudia.
Que a Luz e a Força nunca te abandonem.
...há já tanto tempo que por aqui não passo:)
beijinho
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